Adeus a Manzanar: Mas n?ao hibridismo cultural

Seis

O que quer que plantasse, colhia

Aquela bengala que Papai trouxe quando voltou havia sido entalhada e polida por ele próprio na Dacota do Norte. Mesmo quando parou de mancar, continuou a usá-la. Ele não precisava. Gostava de utilizá-la do jeito que os reis gostam de intimidar com seu bastão, assim como também alguns oficiais militares o fazem. Quando estava nervoso, ele a empunhava como a uma espada, golpeando seus filhos, sua esposa ou suas alucinações. Manteve aquela bengala por anos e lhe foi de bom uso. Eu agora a vejo como uma versão triste e caseira da espada samurai que seu tataravô carregava pelas terras ao redor de Hiroshima, numa época em que tais guerreiros não eram mais tão necessários, quando suas espadas eram ao mesmo tempo sua virtude e seu fardo. Isso me ajuda a entender como a vida do Papai foi terminar em um lugar como Manzanar. Ele não morreu ali, mas as coisas tiveram seu fim para ele lá, enquanto para mim foi como um lugar de nascimento. O campo foi onde nossas linhas da vida se cruzaram.
Ele era o filho mais velho de uma família que foi, por séculos, da classe dos samurais. Costumava gabar-se de que haviam possuído mais terras do que se podia andar a cavalo em um único dia. Quando nasceu, em 1887, eles já não eram mais guerreiros. O Japão estava vivendo aquela angústia da rápida e confusa metamorfose de uma nação feudal para uma industrial, que começou quando a esquadra negra do comodoro Perry avançou rapidamente na baía de Tóquio e forçou os Japoneses a abrirem seus portos e cidades para o comércio ocidental.
O avô de Papai foi juiz, e também magistrado da pequena ilha bela de Miyajima. Teve quatro filhos, incluindo um menino, o pai…