A Criação Ortonímica de Fernando Pessoa

A/ vi/da/ é/ co/mo uma/ som/bra/ que/ pás/sa/ por/ so/bre um/ rio

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Ou/ co/mo um/ pas/so/ na al/fom/bra/ de um/ quar/to/ que/ jaz/ va/zio;

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

O a/mor/ é um/ so/no/ que/ che/ga/ pa/ra o /pou/co/ ser/ que/ se é;

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

A/ gló/ria/ com/ce/de e/ ne/ga;/ não/ tem/ ver/da/dês/ a/ fé 

Tendo em vista que o poema Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar faz uma sondagem do "eu-profundo", percebe-se que nele há a retratação das inquietações do indivíduo, do seu tédio frente à vida, da sua solidão etc. O tônus angustiado, já mencionado por muitos críticos, muitas vezes desesperado no cancioneiro ortônimo de Fernando Pessoa, é facilmente identificável no poema a ser analisado.

Logo que o leitor inicia a leitura deste poema, já identifica o eu-lírico do poeta falando de uma situação pela qual está passando. Alguém se encontra ali sozinho na orla da praia, em forte constrição e angustiado com a vida: "Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar". O elemento observável aí no primeiro verso do poema nos remete a algo pertencente à natureza, esse elemento é propício para demonstrar a espécie de fuga que o eu-lírico está vivenciando. Já na primeira estrofe é possível observar o tema da morte: "E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida". A certeza que o eu-lírico possui é a morte, pois ele fala, de maneira eufemizada: "...dormirei de seguida".

Na verdade, essa espera pela morte encontra respaldo na total falta de motivos…