Ler: uma paixão

G.H. é alguém sem nome que vive no 13º andar de um edifício elegante numa cobertura classe média que, de repente, necessita se explicar para entender, ou seja, precisa transferir o que lhe aconteceu para o outro numa tentativa de se entender. E por isso se utilizará da palavra como único meio de tornar real, ou mesmo, racional, o fato ocorrido. Mas sabe que tocar a vida com a palavra é um anseio impossível, pois esta a distanciará da coisa, sempre. É uma relação neurótica. Para tocar o inexpressivo, é preciso ter a revelação do neutro, é preciso transpor o espelho a partir do êxtase que causa o neutro. É o sentir novamente todo o prazer da doação total de si ao outro ser.

Pausa. Sentir alcança instâncias jamais visitadas pelo saber. Elas não excluem as do saber. Elas revelam ângulos outros do ser, partes carregadas de sombras e dos luminosos mistérios da existência por isso mesmo ricas e surpreendentes de revelações. Como o sujeito não fica só com o sentir, ele procurará saber, entender. O que não percebe é que quanto mais buscas, mais ignorâncias, logo novos impasses, novos jogos e... desilusões. O sujeito-leitor tem de aprender a não desistir, pois persistir poderá levá-lo outros problemas, outros fascínios, outras pessoas (nele mesmo).

G.H. se utilizando do discurso analítico, fará um descentramento do eu para penetrar no que Freud chamou de inconsciente, que é uma espécie de substrato, de onde provém as pulsões, que tem como conteúdos, os representantes psíquicos destas, sejam os que nunca chegaram a se tornar conscientes, ou os que foram recalcados; é a…