Os Valores Morais e Religiosos no Auto da Barca do Inferno

Fidalgo: Que deixo na outra vida / Quem reze por mim.

Diabo: Quem reze sempre por ti? / Hi, hi, hi, hi , hi, ...!

Ao se dirigir à barca do Paraíso, o Anjo o acusa de tirania e grande vaidade e de ter sentido grande desprezo pelos desprivilegiados. Esse representante da nobreza é condenado à barca do Inferno por ter levado uma vida tirana, cheia de luxúria e pecados. Mesmo depois de morto, o fidalgo demonstra a arrogância prepotente típica de sua classe social, além disso acha-se merecedor da recompensa divina, pois deixou na vida quem rezasse por ele. O anjo considera que só a Barca do inferno poderia transportar os símbolos da riqueza do fidalgo: a cadeira (poder político), o rabo (a cauda de seu manto) e o senhorio (propriedade).

Anjo: Para vossa fantasia / muito estreita é esta barca.

Diabo: Para senhor de tal marca / não há aqui mais cortesia?

Anjo : Não vindes vós de maneira / para ir neste navio /

Este outro vai mais vazio: / a cadeira entrará /

E o rabo caberá / e todo vosso senhorio.

O Fidalgo é condenado ao inferno. A crítica à nobreza é centrada em três defeitos humanos: o orgulho, a tirania e hipocrisia religiosa. Embora típico, o fidalgo apresenta uma certa humanidade, pois quando rejeitado pelo Anjo, se mostra arrependido por sua existência vazia: Fidalgo: Folgava ser adorado; / confiei em meu estado / e nom vi que me perdia

O Onzeneiro – Representando os agiotas, o onzeneiro ambicioso chega trazendo consigo, uma enorme bolsa vazia, onde guardava o dinheiro que roubava do povo. O Diabo o cumprimenta chamando-lhe de "meu parente":

Diabo: Oh! Que má-hora venhais, / onzeneiro…