O Caminho da Carta de Caminha

Publicado em 14/06/2003

PONTA GROSSA - PR

JUNHO DE 2003


O CAMINHO DA CARTA DE CAMINHA

A Carta e o cânone

A Carta de Caminha cuja primeira edição é somente de 1817 tinha características adequadas para ocupar o posto estratégico no que se queria que fosse a formação e a determinação do cânone da literatura brasileira. A carta sequer é um texto literário nem de autor brasileiro. Descoberta no século XIX, ela determina uma visão e um caminho: colocada no começo, determina um perfil e uma orientação, a visão do Brasil como utopia portuguesa, documentado que, embora não seja verdade, o território foi descoberto primeiro por Cabral.

Uma coisa é o documento português; outra diferente, aquilo que a interpretação brasileira dele fez. Impõe-se por meio dele uma identidade, de fora para dentro. Atende a uma tripla necessidade: filiar o país à formação portuguesa, manter a hegemonia da oligarquia de origem lusa sobre as outras minorias étnicas e impor a visão do país como utopia.

Provocativa visão heurística – não imanente à exegese canonizante – é que boa parte, não a melhor parte, da literatura brasileira não é Literatura nem Brasileira: não só se diz com isso que parte da literatura canonizada jamais alcança nível internacional, mas também que a maior parte da literatura produzida no Brasil durante o período colonial é, sobretudo uma literatura portuguesa escrita numa colônia de Portugal, e não uma literatura brasileira.

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