O Caipira e a Construção da Nacionalidade: Diversas Faces do Jeca Tatu

E nascia, o "Jeca", em grande estilo, pois atraía, na época, os focos da crítica paulistana que se sentiu "ofendida" com a visão pejorativa transposta para o caipira brasileiro. Na verdade, o que Lobato pretende, ao construir essa primeira versão do personagem Jeca Tatu, é "retificar" a visão que na cidade se tinha do caboclo. Veja-se, por exemplo, uma carta enviada a seu amigo Godofredo Rangel, datada de 20 de outubro de 1914, vinte e três dias antes da publicação de Velha Praga. Nela o escritor enfatiza a sua intenção de "construir" um caipira (nas palavras do autor, "caboclo") profundamente nacional, sem laivos sequer remotos de qualquer influência européia:

Rangel, é preciso matar o caboclo que evoluiu dos índios de Alencar e veio até Coelho Neto.(...) A nossa literatura é fabricada por sujeitos que não penetram nos campos por medo dos carrapatos.4

Observe-se a intenção dessa primeira estereotipação do Jeca, nas palavras de Lobato: ela é de caráter explicitamente literário, oriunda de uma vontade de retificar a imagem do caboclo forte, sadio, audaz, construções herdadas do Romantismo. Era contestação do "caipira" romântico, mas era também contestação, conservadora, do "novo caipira", o Macunaíma, por exemplo, do Modernismo que estava por…