Geografia & Religião

GEOGRAFIA & RELIGIÃO

Recordamo-nos de uma aula em que a geógrafa Maria Adélia de Souza reclamava atenção a duas "geografias" que faltavam na Academia em nossos dias: a geografia da fome e a geografia da religião. Este texto quer tratar desta última, tão negligenciada quanto a "da fome", e soa-nos esta negligência como lacuna bastante notável nas análises espaciais que nos propomos dar corpo como geógrafos.

A abordagem do acontecer religioso como fenômeno capaz de atuar como organizador e transformador do espaço requer a aceitação de que as diversas experiências religiosas/místicas podem, amiúde, ter participação considerável na formação da cultura de um povo¹; ora, é o povo um produtor de espaço. Sobre tal abordagem ter sido relegada "a periferia" das análises geográficas no Brasil, Zeni ROSENDHAL (1996), percebe uma influência advinda do positivismo, bem como o inegável peso do materialismo marxista (variando do agnóstico ao francamente ateu) dos geógrafos críticos; de modo que se terminou por colocar em segundo plano o estudo do subjetivo, do fenômeno emocional, conseqüentemente, da religião na construção e apreensão do espaço pela sociedade. Considerando o papel da religiosidade na formação do povo brasileiro, e utilizando-nos da noção de totalidade proposta por Milton Santos, é justo que se note, de imediato, o empobrecimento de uma análise espacial que negue a variável religião. Não nos referimos aqui à construção de…