Das Formas de Dourar Correntes ou Sobre o Discurso da Dominação na Cultura

Há uma fome mais funda que a fome, mais exigente e voraz que a física: a fome de sentido de valor; de reconhecimento e acolhimento; fome de ser – sabendo-se que só se alcança ser alguém pela mediação do olhar alheio que nos reconhece e valoriza.

Tentamos aqui demonstrar que a questão do crime tem sua gênese na infância de cada indivíduo. Todos aqueles que almejam por visibilidade possuem desde já sua confiança básica abalada, confiança esta que, segundo Giddens, seria um fenômeno crucial no desenvolvimento da personalidade. Ela estaria diretamente ligada à obtenção de um senso precoce de segurança ontológica, onde a confiança estabelecida entre os que cuidam da criança e ela instauraria um sentimento que afastaria os possíveis medos de ameaças e perigos potenciais que até mesmo as atividades mais corriqueiras da vida contêm. Esta confiança básica está ligada decisivamente à auto-identidade e à apreciação dos outros.

Justamente neste contexto podemos observar a natureza simbólica das convenções culturais, onde as crenças vigentes atendem bem melhor aos anseios do que a prática da violência física. A violência simbólica, que visa a atingir não o corpo, mas a alma do condenado, possui em nossos dias uma eficácia significativa. Segundo essa penalidade, a alma passa por momentos de privação, de obrigações, o castigo passa a ser constituído por…