Nelson Rodrigues, escrita e memória: reflexões sobre o ofício jornalístico

Muitos cronistas podem ainda, dentro do território de sua escrita, fazer uma espécie de trânsito por entre as classificações possíveis da crônica: no estilo lírico, por exemplo, nostalgia e sensibilidade se aliam; na humorística, piadas são dedicadas às trivialidades da vida comum; a crônica-ensaio critica, de modo irônico, as relações sociais e de poder; já a filosófica incita uma reflexão mais profunda sobre ocorridos; e por fim, a crônica jornalística, proporciona a particularidade das notícias e fatos, podendo ser policial, esportiva, política, etc.

• Crônica jornalística: Gênero nacional 

Segundo o professor emérito de comunicações e artes da USP, José Marques de Melo, a crônica elaborada nas redações de jornais "se trata de um gênero tipicamente brasileiro, não encontrado equivalente na produção jornalística de outros países" (MELO, 2003, p. 148). Tal afirmação pode ser atribuída a dois episódios históricos relevantes e de cunho modificador à vida sociocultural do país; num primeiro momento podemos citar a Semana de Arte Moderna de 1922, na qual a literatura se aproxima do cunho real, e reafirma a preservação do lugar da crônica já praticada por Machado de Assis no século XIX, modificando os padrões do estilo jornalístico; num segundo momento, ao desenvolvimento da imprensa que nessa época, ampliou seu público…