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Nelson Rodrigues, escrita e memória: reflexões sobre o ofício jornalístico
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Houve quem tivesse intolerância a cada linha escrita por ele, claro, e o seu descompromisso com o mundo no qual as coisas grotescas da vida humana inexistiam, foi responsável por demonizar tanto sua obra quanto sua pessoa, Nelson Rodrigues não era visto simplesmente como um escritor ou jornalista, mas sim como alguém que precisava ser evitado:
Diziam de mim o diabo. Lembro-me de uma senhora que afirmou o seguinte: eu dormia, vejam vocês, eu fazia a minha sesta num caixão de defunto. E se o ouvinte fazia um esgar de dúvida, logo a santa senhora jurava: ‘Pela vida dos meus filhos!’ Uma outra descobriu que eu sou necrófilo (RODRIGUES, 2015, p. 153).
Apesar disso, existiu o público que o reconheceu como uma espécie de iconoclasta, isto é, se um jornalismo comedido não fazia o seu tipo, e se deixar de priorizar seus reacionarismos fosse uma questão, ele não teria sido quem foi, o que fez para o momento e seguiu adiante foi o rompimento com a própria ideia da tentativa de um “discurso semideus”.
Eu, a minha obra, o meu sofrimento, a minha visão do amor e da morte. Tudo, tudo passou para um plano secundário ou nulo. Só os admiradores existiam. Só me interessava o elogio; e o elogio era tóxico, o vício muito doce e muito vil. Pouco a pouco, os que me admiravam se…
Diziam de mim o diabo. Lembro-me de uma senhora que afirmou o seguinte: eu dormia, vejam vocês, eu fazia a minha sesta num caixão de defunto. E se o ouvinte fazia um esgar de dúvida, logo a santa senhora jurava: ‘Pela vida dos meus filhos!’ Uma outra descobriu que eu sou necrófilo (RODRIGUES, 2015, p. 153).
Apesar disso, existiu o público que o reconheceu como uma espécie de iconoclasta, isto é, se um jornalismo comedido não fazia o seu tipo, e se deixar de priorizar seus reacionarismos fosse uma questão, ele não teria sido quem foi, o que fez para o momento e seguiu adiante foi o rompimento com a própria ideia da tentativa de um “discurso semideus”.
Eu, a minha obra, o meu sofrimento, a minha visão do amor e da morte. Tudo, tudo passou para um plano secundário ou nulo. Só os admiradores existiam. Só me interessava o elogio; e o elogio era tóxico, o vício muito doce e muito vil. Pouco a pouco, os que me admiravam se…
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