Nelson Rodrigues, escrita e memória: reflexões sobre o ofício jornalístico

Mesmo assim, a fome e o cigarro lhe causaram uma tuberculose impiedosa, e então precisou fazer um tratamento médico em Campos do Jordão, no “Sanatorinho”. Lá, conheceu inúmeros personangens da vida comum, cada um ocupou espaço cativo para a superação do que era estar longe dos seus afazeres e do emprego, mas o patrão, Roberto  nunca deixou de pagá-lo.

Quando voltou ao trabalho escreveu “A mulher sem pecado”, peça de estreia, lançada em meados de 1941. As duas semanas em cartaz, bastaram para que ele imergisse ainda mais na nata vocação de dramaturgo, depois veio a clássica “Vestido de noiva” e tantas outras que firmaram sua carreira como um homem das artes, sobretudo, não importava a aplicação: fosse na redação ou nos diálogos existenciais dos enredos, o reconhecimento era a própria escrita.

Nelson faleceu em 1980 de trombose e insuficiência cardíaca, após ter produzido sua última crônica sobre o natal para “O Globo”, de nome “A vigília dos pastores”. Nela, uma reflexão acerca do sentido na nossa existência como uma espécie de ideia do seu porvir, parecia uma despedida:

Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja…