Nelson Rodrigues, escrita e memória: reflexões sobre o ofício jornalístico

Depois do escarcéu causado pelos conteúdos que trazia à tona, Nelson cansou do jornalzinho ainda na quinta edição e voltou para a editoria policial de “A manhã”, cobrindo as mais variadas mortes e crimes, injetando suas boas doses de fantasia. Em seguida, após dois anos, foi convocado para a seção de editorial, as primeiras crônicas surgiram e a partir daí, ganharam cada vez mais espaço guiando sua trajetória jornalística.

Nesse entretempo, o amadurecimento do escritor foi permeado por decepções e episódios de muita dificuldade. A morte do irmão, o artista plástico, Roberto Rodrigues no ano de 1929, assassinado na redação de “Crítica” (novo jornal de Mário) pela escritora Sylvia Seraphim por conta de uma matéria que saíra sobre seu divórcio, causou um verdadeiro desajuste na sociedade carioca e ela mesma resolveu prestar contas com o proprietário, mas como o patriarca não estava nas dependências, chamou Roberto em uma sala e efetuou os disparos que Nelson nunca pode esquecer:

Naqueles cinco, seis minutos, acontecera tudo (e como, nesses momentos, a figura do criminoso é secundária, nula. Eu não me lembrei da ira; eu não pensei em também ferir ou em também matar. Só Roberto existia. Estava ali, deitado, certo, certo de que ia…