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Nelson Rodrigues, escrita e memória: reflexões sobre o ofício jornalístico
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Tais matérias instigavam uma leitura alicerçada em valores engenhosos ao retrarem uma rotina da vida comum com uma boa dose de fantasia nos registro dos jornais cariocas da década de 20, mostra a escritora Marialva Barbosa em seu texto “Tragédias apaixonam a cidade”:
A marca mais inflexiva da imprensa carioca no final dos anos 1920 é, sem dúvida, o destaque que os jornais diários dão às notas sensacionais. Ou ‘tragédias’, como são chamados na época essa “rede de textos” (Chartier, 1993) que fala dos dramas quotidianos envolvendo crimes, violência, desfechos trágicos de toda a natureza (BARBOSA, s/d, p. 75).
Nelson Rodrigues soube como utilizar este recurso, e se fora da atividade jornalística, a dramatugia ocupava lugar cativo como outra paixão, fundiu estilos, romanceando as páginas policiais. Na verdade, a ausência de veracidade, para ele, tornava ainda mais real o que escrevia, porque se de um lado havia a corrida exacerbada por garantir a “limpeza” das informações por parte de jornalistas que se adaptaram facilmente aos copy desks, os enredos alegóricos dele preservavam a subjetividade do leitor:
Rapidamente deixei de ser apenas o repórter do atropelamento. Escrevera sobre o pacto de Pereira Nunes uma boa meia página. Desta vez, mais seguro de mim mesmo, inundei de fantasia a matéria. Notara que, na varanda da menina, havia uma gaiola com um canário. E fiz do passarinho um personagem obsessivo da história. Descrevi toda a cena: a menina,…
A marca mais inflexiva da imprensa carioca no final dos anos 1920 é, sem dúvida, o destaque que os jornais diários dão às notas sensacionais. Ou ‘tragédias’, como são chamados na época essa “rede de textos” (Chartier, 1993) que fala dos dramas quotidianos envolvendo crimes, violência, desfechos trágicos de toda a natureza (BARBOSA, s/d, p. 75).
Nelson Rodrigues soube como utilizar este recurso, e se fora da atividade jornalística, a dramatugia ocupava lugar cativo como outra paixão, fundiu estilos, romanceando as páginas policiais. Na verdade, a ausência de veracidade, para ele, tornava ainda mais real o que escrevia, porque se de um lado havia a corrida exacerbada por garantir a “limpeza” das informações por parte de jornalistas que se adaptaram facilmente aos copy desks, os enredos alegóricos dele preservavam a subjetividade do leitor:
Rapidamente deixei de ser apenas o repórter do atropelamento. Escrevera sobre o pacto de Pereira Nunes uma boa meia página. Desta vez, mais seguro de mim mesmo, inundei de fantasia a matéria. Notara que, na varanda da menina, havia uma gaiola com um canário. E fiz do passarinho um personagem obsessivo da história. Descrevi toda a cena: a menina,…
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