Universalismo Moral e Relativismo Ético

Essa diferenciação, admite Habermas, "não resolve o problema de como atravessar o abismo entre julgamento moral e comportamento efetivo", mas nos permite ver que se já não estamos "no marco de uma filosofia ainda confiante em dar respostas gerais às questões do bem-viver", devemos assumir que a questão do "por quê ser moral?" deve ser deixada sem resposta (1994, p127). Uma teoria normativa que pretende tão somente "reconstruir o ponto de vista moral e justificar sua validade eral (...) pode apenas mostrar aos participantes os procedimentos que eles precisam seguir caso queiram resolver problemas morais e deve deixar todas as decisões concretas para eles próprios" (idem, p.128).

Finalmente, em relação à abstração da vida ética concreta, apoiada em uma concepção atomista da pessoa e contratualista da sociedade, Habermas lembra que Hegel foi um dos primeiros a fazer essa crítica, sem ter deixado de notar, no entanto, "que também há um elemento de verdade nessas abstrações modernas", as quais expressam "as noções de autonomia e liberdade de consciência que são indissociáveis da autocompreensão do período moderno". O que estava em jogo para Kant, diz Habermas, era enfrentar "situações limites em que discernimentos morais tinham de ser defendidos contra preconceitos da maioria ou mesmo de uma sociedade preconceituosa em sua totalidade" (idem, p130). Embora não trabalhada por Kant, a noção ideal de assunção de papéis (como vimos no capítulo 2, crucial no esquema de Kohlberg) implícita no emprego do imperativo categórico, "preserva ascaracterísticas de uma…