Universalismo Moral e Relativismo Ético

De qualquer forma, mesmo admitindo-se que as orientações da justiça e do cuidado não constituem trajetórias distintas de desenvolvimento e relevando-se as inconsistências apontadas nas objeções metodológicas de Gilligan a Kohlberg, a ampliação da esfera moral suscitada pelas teses de Gilligan implica algo além de uma simples acomodação da teoria kohlberguiana. Se na moralidade da justiça a ênfase no respeito aos direitos destaca o indivíduo e dá ao imperativo moral um sinal negativo – no sentido de obrigação de não interferência e proteção à auto-realização – na moralidade do cuidado, como observa Gilligan, a ênfase na responsabilidade destaca o coletivo e dá ao imperativo moral um sinal positivo, enquanto obrigação de cuidar não só de si como dos outros e de proteger às conexões.

Essa distinção pode corresponder às noções kantianas de deveres negativos perfeitos, no sentido em que só eles são universalizáveis, e deveres positivos imperfeitos, "que nunca podem ser completamente observados", no sentido em que "é impossível praticar o cuidado todo o tempo e em relação a todas as pessoas", assinala Nunner-Winkler (1983). Certamente, se entendida dessa forma, a moralidade do cuidado implicaria uma exigência motivacional excessiva, inviabilizando-a. Mas há de haver um ponto de equilíbrio entre essa exigência impraticável e a postura de observância passiva de deveres negativos, como garantia apenas formal das condições…