Universalismo Moral e Relativismo Ético

Em suma, Pierucci tem razão ao apontar o complicador prático introduzido pela temática diferencialista em disputas fora do âmbito acadêmico42, mas ela não resultou necessariamente em retrocesso. É razoável supor que a melhora da posição do contingente feminino nos mercados de trabalho, comparativamente ao contingente masculino, ainda que lenta e insatisfatória, foi maior nos países que adotaram alguma política compensatória nas últimas décadas do que nos que não o fizeram. O mesmo se pode esperar em relação às populações afro-descendentes onde houve ou há políticas de quotas para cargos públicos ou vagas universitárias.

O fato é que para ser conclusiva, a avaliação sobre até que ponto a temática diferencialista trouxe mais perdas ou mais ganhos – avanço ou retrocesso no combate às desigualdades – aos movimentos que a abraçaram, depende de um balanço empírico abrangente. Para a nossa discussão basta admitirmos que o deslocamento do eixo da igualdade para o da diferença não resultou em mudanças em uma única direção – um dado importante para compreender as motivações de seus protagonistas. E tratar de motivações nos remete à primeira das questões acima, sobre a reversibilidade, ou não, da tendência diferencialista.

A hipótese da reversibilidade está pressuposta na caracterização de voluntarismo e de equívoco que em algumas…