Universalismo Moral e Relativismo Ético

Para Pierucci, o deslocamento do eixo da igualdade para o da diferença no discurso de movimentos das mulheres e de minorias étnicas, culturais, sexuais etc. – a afirmação do direito à diferença em detrimento da ênfase na busca da igualdade – teria, ao final, apenas nutrido a base argumentativa da direita conservadora (legitimada, desde sempre, no apelo da empiria de que somos diferentes), ao fundamentar, agora com bases culturais, a lógica de uma ordem discriminatória, antes apoiada apenas em pretensa naturalidade. E para os movimentos emancipatórios, o discurso do direito à diferença "traz consigo um ardil (...), uma debilidade hereditária: o fato de ter sido o amor à diferença alimentado no campo (ultra)conservador duzentos anos a fio", o que "intelectualiza em excesso a opção diferencialista de esquerda, sobrecarregando-a de um outro handicap – a elitização" (idem, p.31-2). A pretensão de combinar diferença e igualdade para superá-las enquanto dicotomia, simplificada na expressão ‘diferentes, mas iguais’, teria pouca possibilidade de êxito enquanto práxis libertária, posto que complexa demais para ser absorvida fora dos espaços acadêmicos, para fins de militância e práticas jurídicas. "A ‘igualdade na diferença’ não passa de um wishful thinking de esquerda, uma prescrição ilusória, uma tentação de onipotência nominalista", diz Pierucci. As convicções discriminatórias…