Universalismo Moral e Relativismo Ético

Por um lado Piaget fornece evidências que embasam a observação de Gilligan ao registrar diferenças significativas de gênero entre a mentalidade dos meninos e das meninas que investiga – as meninas desenvolvendo sua inteligência pela criatividade e sendo mais flexíveis, privilegiando assim a continuidade dos relacionamentos; os meninos desenvolvendo seu raciocínio lógico, privilegiando a regulamentação das relações. Por outro, parece não haver dúvida de que Piaget hierarquiza estas diferenças, como que desqualificando traços marcantes da identidade feminina, o que seria sintomático, como o acusa Gilligan, de que teria adotado o padrão masculino como modelo de desenvolvimento.

Kohlberg – para Gilligan, seguidor de Piaget também nesse aspecto – teria cometido o mesmo viés em suas pesquisas. Fruto de uma investigação longitudinal feita apenas com meninos, que constituiu a base empírica original de sua teoria, os critérios kohlberguianos de codificação de entrevistas, voltados para a classificação dos indivíduos nos estágios de pensamento moral e atentos fundamentalmente à complexidade lógico-formal dos raciocínios que embasam os julgamentos morais, seriam incapazes de captar o valor do que pode parecer um excessivo interesse em relacionamentos e responsabilidades. Freqüente no discurso feminino, esse interesse tende a ser confundido com bondade e igualado a um altruísmo…