Universalismo Moral e Relativismo Ético

Com a agravante de que sua teoria tem sido difundida aqui, através da leitura de Carol Gilligan – pertinente e provocante, mas em alguns aspectos injusta, como pretendo demonstrar. Enquanto In a different voice, de Gilligan, publicado em 1982, depois de vender meio milhão de exemplares nos Estados Unidos foi editado no Brasil, não há aqui a tradução de um único texto, sequer, da instigante e muito mais extensa obra de Kohlberg e colaboradores. Importa para a presente tese que, se Kohlberg tem passado quase despercebido entre nós – com raras exceções, entre elas a produção relevante de Barbara Freitag – autores como Rawls e Taylor referem-se a ele e outros, como Habermas, discutem e incorporam em suas reflexões a teoria cognitivista da moralidade.

A segunda motivação de minha opção por Piaget e Kohlberg decorre da avaliação de que após o desmoronamento das pretensões de objetividade positivistas e funcionalistas, desautorizando qualquer teoria a reivindicar o status de superioridade filosófica, ou de verdade científica inquestionável, dois critérios parecem adquirir relevância para a escolha de um enfoque teórico. De um lado, o critério de atender à exigência de um encaixe convincente com outras teorias, como sugere Habermas, justamente ao considerar a pesquisa kohlberguiana como uma peça do mesmo quebra-cabeça em que coloca outras teorias reconstrutivas e sua própria ética do discurso2. De outro, no meu entender, o critério conseqüencialista, isto é, uma projeção das decorrências práticas da eventual…