Bertold Brecht

A primeira característica valida de se observar em relação a Brecht e a política, está no fato de que o nosso autor não provém de um ambiente proletário. O pai de Brecht trabalhava no setor de compra e venda de uma fabrica de papel e chegou, em dado momento, a ser diretor da empresa; era, portanto, um empregado de colarinho branco. Brecht nasceu e foi criado assim, numa família de classe média. Sua adesão às posições de esquerda, comprometidas com os anseios e aspirações da classe operária, não foi, por conseguinte, uma adesão determinada por qualquer instinto de classe: ela derivou de uma reflexão e de uma opção ética.

Uma segunda característica que precisa ser sublinhada: o engajamento político a favor dos de baixo e contra os privilégios e mistificações dos de cima se deu muito cedo e assumiu, inicialmente, a forma de uma aguda rebeldia. Brecht começou por questionar os mitos patrióticos vinculados a Alemanha por ocasião da histeria nacionalista da Primeira Guerra Mundial. As convicções firmemente pacifistas foram reafirmadas ao longo praticamente de toda sua obra. A peça de Brecht reflete sua certeza de que a guerra traz lucro a uns poucos, mas só acarretam desgraças à gente do povo.

Brecht, contudo, já nos primeiros anos da sua atividade com escritor, estava longe de ser um pacifista idílico, ingenuamente voltado para pregação do desarmamento dos espíritos. Para assegurarmos a paz, numa sociedade, não podemos aceitar, nela, as formas brutais de violência institucionalizada e a cristalização de disparidades monstruosas. Enquanto nos impuserem uma ordem que sanciona graves injustiças,…