Montesquieu

São justamente estes os limites de Montesquieu. Talvez fosse conveniente acentuá-los de modo menos sensível; talvez os escrúpulos do pensador e do artista tenham levado o homem a ocultar parcialmente sua generosidade ou sua profundeza. Montesquieu dirigia-se a seu objeto que é uma demonstração. Pretende-se experimental e permanece sobretudo dogmático. Parte de princípios e, embora eu não afirme que estes princípios sejam seus humores, deles muitas vezes se ressentem, como é o caso de seu duplo ódio contra o despotismo e o fanatismo, que desempenham um importante papel. Cita vários exemplos mas nem sempre parte deles, freqüentemente os arruma. É preciso que o clima disponha as coisas de uma certa maneira - e eis que elas se encontram dispostas. A natureza pôde querê-lo, e pode ocorrer também que a inteligência aí descubra mais do que ela colocou e pague, de um lado, sua engenhosidade. Daí a impressão que nos fica - principalmente da literatura do Espírito das Leis - de uma filosofia política amiúde polêmica, mais do que de uma verdadeira filosofia de história. Mas levando assim por seu temperamento, sua paixão de espírito, Montesquieu não deixa de dominar sua matéria, atendo-se apenas a seus objetivos, mantendo-se dentro dos limites da tradição clássica, não pondo seu pensamento a serviço de interesses ou de ódio. Nós o aproximamos dos enciclopedistas, mas cuidaremos de não o confundir com estes; ele adotaria, segundo a sua necessidade, algumas de suas conclusões. Não há nisso má-fé. Partidos poderão reclamar tê-lo consigo, sem que ele possa alguma vez ser acusado de partidário. O que ele procura, tanto quanto é…