Responsabilidade Social

As famílias, como as sociedades políticas organizadas, revelam, nos momentos de crise, os alicerces das suas convicções morais. Não é raro observar como irmãos e primos passam a se digladiar com unhas e dentes, em certas famílias carentes de fortes convicções, pela herança dos entes queridos que partiram, maculando a memória dos antepassados. Algo semelhante acontece hodiernamente no nosso país, no campeonato macunaímico pela manutenção de privilégios que acompanha a discussão das reformas ora em curso no Parlamento. Não que todo mundo no Brasil seja um privilegiado. Mas os 10% que representam a burocracia luta de todas as formas para manter "subtetos" nitidamente injustos, sem o menor constrangimento. Confunde-se artifício legal com moralidade. Ora, o momento exige uma mais acurada análise acerca dos fundamentos éticos em que repousam os nossos costumes políticos.

Há, a meu ver, uma base de moral social em que se ancora a reivindicação de privilégios por parte de segmentos da burocracia: a convicção pombalina de que o Estado empresário, de posse da ciência aplicada, garante a riqueza da nação, bem como a moralidade pública e privada. À luz dessa convicção, o problema de produção de riqueza que tinha sido equacionado por Adam Smith, inspirado na ética do trabalho, passou a ser solucionado, no contexto do iluminismo despótico pombalino, poupando ao indivíduo o incômodo dever de produzir com o seu trabalho, deixando essa pesada missão para o Estado-empresário. Restava ao felizardo cidadão se encostar no Estado para sobreviver e se enriquecer. Sagrou-se assim a esdrúxula liturgia de culto ao Estado Patrimonial,…